segunda-feira, 6 de junho de 2011

O banco que puxava cabelos

" Tarde fria de outono, sol brilhando e vento geladinho.. brisando. E eu, sempre dissertativa me corroia descritivamente em tudo que eu via.
Havia porém,um entre tantos lugares a sombra, escolhi, me sentei e comecei. Eu só escrevia, aquele era um dia inspirador, literalmente! Me inspirava uma certa dor ver, o simples fato de ver parecia doer. Existências tão banais, seres humanos normais era o que eu podia perceber por detrás daqueles vidros que pareciam dividir dois mundos, o meu onde tudo parecia adtivado e o deles onde tudo parecia caber, pertencer.  
Aconteceu que enquanto escrevia, sobre essa estanha sensação de não caber em mim, naquele saculejo todo que embaralhava a letra mais que os pensamentos já eram embaralhados de costume, um a um algo se perdia.
FIOS DO MEU CABELO, do meu precioso e caro cabelo.
Poderia jurar, eu estava tão longe daquele lugar, que nem entendia o que acontecia.. só sentia um leve desconforto que me intrigava. Quando dei por mim, enfim percebí que era aquele bendito banco, que eu tão cuidadosamente escolhí que justamente me deixava desconfortável.
Nesse ponto, digo o da percepção enfim, já havia eu perdido uns muitos cabelos, o que na minha condição de cabelos ralos, um já seria odioso. Confesso que aquilo estava me tirando do sério.
Como num estalo, deixei um texto e partí pra outro, comecei a escrever sobre o porque de eu ter escolhido aquele bendito banco, este que tirou- me os cabelos havia sido escolhido unicamente por ser mais confortável estar a sombra, e pra quem mora no Rio de Janeiro, sentar a sombra faz toda diferença.
Pois é, nesse dia também fez. 
Observei, depois de tantos fios, que a culpa não era do inanimado banco, impossibilitado de decidir, a culpa era minha, de fato.
Alguém poderia dizer que não havia como prever, sim é claro, porém durante todos aqueles torturantes 45 minutos o poder de decidir estava na minha mão, e como num jogo de times incompetentes, deixei pra decidir nos acréscimos.
Quase chegando ao meu destino, mudei-me para um lugar, ao sol.
Enfurecida com o incomodo de ter que mudar de lugar, observei que habitualmente também, eu estava com os óculos escuros desapercebidamente no rosto. ( Pra quem mora no Rio de Janeiro isso faz toda diferença). Já não haveria mais o imaginado desconforto do papel branco ofuscando minha vista, por que eu ainda sou juráscica! Escrevo com papel e caneta, não apenas nas teclas do net book, não havia mais também o desconforto dos fios esvaindo-se um a um e tão pouco o da brisa, que como comentei estava gelada.
O sol me aquecia, em paz eu escrevia e tudo, digo tudo mesmo se esclarecia.
Dizem que não perdemos um fio de cabelo se Deus não deixar, então, dei por mim que havia algo divino alí. A permissão viera exatmente para que eu percebesse, o poder da decisão está todo o tempo nas nossas mãos, e nunca é tarde. Hábitos podem destuir cabelos e vidas também, porém.. bons hábitos como andar de óculos escuros podem salvar textos e tantos outros podem salvar histórias. Por fim, as vezes o lugar menos desejado, a coisa mais temida pode sim ser a mais adequada, a vida tem dessas surpresas.


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