sábado, 21 de abril de 2012

Tanta falta, que sobra saudade.

Subir no muro, depois da escola e gritar seu nome.. sua avó vinha me atender como quem dizia, vocês duas estavam juntas a meio minuto, o que pode essa menina querer de novo!?
Subir no muro no final do dia, combinar o penteado que iriamos pra escola no dia seguinte, combinar as roupas e as cores, os short- saia!Sentar no portão com nossas folhas de ofício e desenhar, pintar e bordar.
Não preciso nem dizer que sinto falta, sinto falta de gostarmos dos mesmos meninos e não brigar por isso, sinto falta das bonecas, das escolinhas, de todos os piques que inventamos, dos banhos de piscina nos dias quentes, dos almoços hora na minha casa, hora na sua ...
Eu sei, estou dizendo isso com dez anos de atraso, perdoe-me! Não digo isso sem pesar, como quem perdeu simplesmente a hora do trabalho e vai se atrasar dez minutos, digo com um choro engasgado, de quem perdeu o trem da viagem da sua vida, por dez anos. Você sumiu, fugiu por que te impuseram e eu fiquei.. fiquei por que não me restava outra escolha...fiquei  com a falta que você me faz! Tenho certeza que teríamos crescido exatamente como éramos, como irmãs. Tenho certeza que você estaria linda na minha formatura, certeza que teríamos mais de três ou quatro fotos, tenho certeza que meu cabelo ainda seria grande.. você NUNCA ME DEIXARIA CORTAR! Eu até escuto: Lá, deixa assim. Tenho certeza que você teria me ajudado a escolher as cores das minhas festas e teríamos até ido a alguns fla-flu juntas, e eu teria gargalhado  muito da sua cara naquela derrota contra a LDU pela libertadores, ou talvez.. chorasse com você, porque eu te amo mais que ao meu próprio flamengo. Mas não fomos, você não estava..você não está, mas o seu espaço ainda está aqui, eu juro! É tanta falta que até sobra.. sobra a saudade de quem ficou, e permanece esperando que um dia você volte. E eu continuo esperando, acreditando que você vai ser aquela quem vai conferir o batom pela ultima vez no dia do meu casamento e que ainda veremos alguns fla-flu juntas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pedais da memória.


“Não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita.
Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.Fabrício Carpinejar