quarta-feira, 13 de junho de 2012

Calmaria

Quero pier, quero praia com terra firme pra pisar os pés mesmo que a areia não seja aquela bem branquinha e fofa que eu imaginei.
Quero calmaria em vez de mar agitado, quero se possível.. pela primeira vez em minha vida um lugar onde me segurar, quero o meu lugar.
Quero porto, quero âncora pra tocar o fundo do mar e fazer eu sentir que a superfície chegou, onde finalmente posso respirar tranquila depois de tanto tempo submersa.
Quero chão sob os meus pés, e quero que só pra variar ele não se mova tentando me engolir.






"Dai-me Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar. "

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Para a Incondicional.





Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido
. Caio Fernando Abreu in O Inventário do Ir-remediável

Minha  Incondicioal, seu livro será lindo.

domingo, 6 de maio de 2012

Um brinde !

Mãe é de outro mundo. É emocionalmente incorreta, exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática, chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção. Sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto o mundo propriamente dito exige eficiência máxima, seleciona os mais bem-dotados e cobra caro pelo seu tempo. Mãe é de graça. O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passamos fome. Não liga se virarmos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos. O mundo quer defender o seu, não o nosso.
(Martha Medeiros)






Eu odeio propagandas de dias das mães, mas faço um brinde!
Um brinde a quem não desistiu de fazer o cartãozinho na escola, mesmo sabendo que quem seria prestigiado naquele dia.. não te prestigiaria com a sua presença.. Nem nesse dia, nem em nenhum outro dia importante para você! Um brinde a quem não teve essa figura na formatura de primário.. nem na de CA.. nem na da faculdade, a quem sabe que o lugar da mãe da noiva será preenchido por alguém que tenha feito mais jus a ele, não faço brinde a esse alguém que fez jus ao lugar que mencionei  agora pouco, porque nada no mundo seria suficiente, então.. TODAS AS ESTRELAS E GALÁXIAS eu dedico a minha avó! 
Um brinde a quem teve outro alguém que lhe desse a mamadeira antes de completar os 4 meses de vida, a quem teve outro alguém que lhe desse o agasalho, lhe comprasse aquele brinquedo tão sonhado, lhe desse a educação, o amor e a proteção indispensáveis a qualquer criança.
Um brinde a quem teve outro alguém que lhe instruísse sobre o certo e o errado, a quem teve outro alguém a quem contar sobre o primeiro namorado... um brinde a quem teve um outro alguém com quem conversar sobre sexo.
Um brinde aos meus outros "alguéns"! Que fizeram minha vida digna e feliz, um super brinde a quem não teve nada disso, um mega brinde a quem não teve a sorte que eu tive de ter gente para amenizar as dores e cuidar das cicatrizes, e que ainda assim... vão ser as melhores e mais afetuosas mães de que já se teve notícia.




Com lágrimas, e gratidão aos meus 'alguéns'

sábado, 21 de abril de 2012

Tanta falta, que sobra saudade.

Subir no muro, depois da escola e gritar seu nome.. sua avó vinha me atender como quem dizia, vocês duas estavam juntas a meio minuto, o que pode essa menina querer de novo!?
Subir no muro no final do dia, combinar o penteado que iriamos pra escola no dia seguinte, combinar as roupas e as cores, os short- saia!Sentar no portão com nossas folhas de ofício e desenhar, pintar e bordar.
Não preciso nem dizer que sinto falta, sinto falta de gostarmos dos mesmos meninos e não brigar por isso, sinto falta das bonecas, das escolinhas, de todos os piques que inventamos, dos banhos de piscina nos dias quentes, dos almoços hora na minha casa, hora na sua ...
Eu sei, estou dizendo isso com dez anos de atraso, perdoe-me! Não digo isso sem pesar, como quem perdeu simplesmente a hora do trabalho e vai se atrasar dez minutos, digo com um choro engasgado, de quem perdeu o trem da viagem da sua vida, por dez anos. Você sumiu, fugiu por que te impuseram e eu fiquei.. fiquei por que não me restava outra escolha...fiquei  com a falta que você me faz! Tenho certeza que teríamos crescido exatamente como éramos, como irmãs. Tenho certeza que você estaria linda na minha formatura, certeza que teríamos mais de três ou quatro fotos, tenho certeza que meu cabelo ainda seria grande.. você NUNCA ME DEIXARIA CORTAR! Eu até escuto: Lá, deixa assim. Tenho certeza que você teria me ajudado a escolher as cores das minhas festas e teríamos até ido a alguns fla-flu juntas, e eu teria gargalhado  muito da sua cara naquela derrota contra a LDU pela libertadores, ou talvez.. chorasse com você, porque eu te amo mais que ao meu próprio flamengo. Mas não fomos, você não estava..você não está, mas o seu espaço ainda está aqui, eu juro! É tanta falta que até sobra.. sobra a saudade de quem ficou, e permanece esperando que um dia você volte. E eu continuo esperando, acreditando que você vai ser aquela quem vai conferir o batom pela ultima vez no dia do meu casamento e que ainda veremos alguns fla-flu juntas.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pedais da memória.


“Não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita.
Não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar.
Fechamos os olhos para garantir a memória da memória.
É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras.
Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo.
O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória.
Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível.
Viver é boiar, recordar é nadar.Fabrício Carpinejar